24 de out. de 2009

"Aprendi a ler e escrever pela vontade de copiar receitas"...

Bom dia...
Iniciando a nossa coluna de sábado vamos falar sobre ANALFABETISMO. Segundo a estimativa/2008 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), somos 193 milhões de brasileiros. Desta população 10,5% é analfabeta, não sabe ler nem escrever.
Quando analisamos o analfabetismo por gênero, o INAF/2007 (Indicador de Analfabetismo Funcional), pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro – responsável pela atuação social do IBOPE, aponta os seguintes dados:


Fonte: Ibope-Instituto Paulo Montenegro.

Estes dados mostram uma ligeira vantagem para as mulheres, e o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) explica que este fato se dá pelos seguintes motivos: As mulheres permanecem mais tempo na escola, e pelo aumento do ingresso de mulheres no ensino superior.


Hoje, para mostrarmos a Vida Real deste assunto trazemos a história da Senhora Jesulina José Lopes, de 69 anos, trabalhadora rural, aposentada e pensionista. Freqüenta o Programa EJA, Ensino de Jovens e Adultos, que acontece no Centro de Referência de Assistência Social, no Município de Ibaiti, PR, e gentilmente nos cedeu esta entrevista.
Dona Jesulina casou-se aos 18 anos, e viveu por 40 anos com seu esposo. Hoje é viúva, tem 07 filhos, 18 netos e 08 bisnetos. Mora sozinha aos fundos da casa de um filho. Ela nasceu em Paracatu, MG, passou a maior parte de sua vida, 17 anos, na cidade de Alto Paraná, PR, mais tarde mudou-se para Ibaiti, PR, onde reside até hoje. Sua vida é muito ativa: no período da manhã trata das criações - galinha, cachorro, gato - depois vai ao curso de alfabetização. Às quartas e domingos vai à missa e ao longo da semana freqüenta o Grupo de Idosos: Ibaiti Melhor Idade com Dignidade, onde pratica atividades físicas (ginástica, caminhada, academia) artesanato (pintura e crochê) e informática. Segundo a entrevistada agora está “tentando aprender internet”. O que Dona Jesulina mais gosta de fazer é cozinhar bolos, tortas, doces e tudo quanto é tipo de coisa gostosa, principalmente a pedido dos netos.
Mas a vida de Dona Jesulina nem sempre foi tranqüila, aos 12 anos começou trabalhar na roça, em lavouras de café, por conta disto não teve oportunidade de estudar, e por ser a filha mais velha precisava ajudar os pais. Casou cedo e logo vieram os filhos, o que contribui para adiar por mais tempo a procura pelos estudos. Ela diz que enquanto solteira escrevia apenas o nome e lia meio tropeçando, porque estudou no Mobral. Passado os tempos convidou o esposo para estudarem juntos, mas ele não se animou. Agora que se encontra viúva e sozinha decidiu que aprenderia a ler e escrever, o que no momento já faz muito bem, inclusive resolve contas se for simples.
Decidiu voltar a estudar porque sentia vontade de copiar receitas e não era possível, e outras atividade como preencher um cupom de Tele Sena, sem contar que “muitas atividades exigem a leitura e quem não sabe ler é como se estivesse numa escuridão”, afirma a entrevistada. Depois que aprendeu a ler e escrever diz que muitas coisas mudaram principalmente a oralidade pois “às vezes a gente fala errado por não saber ler nem escrever”.
Com esta conquista se sente “bem mais feliz e inteligente” – diz, mais desenvolvida, achava-se acanhada no começo, mas agora sente-se desinibida numa roda de conversa e até arrisca ler em público. O único problema é que ainda sente dificuldade com respeitar a pontuação no texto.
Para as pessoas que se encontram em situação parecida com a que ela vivia deixa o recado: ''Procurem um lugar onde se ensine ler e escrever, pois esse aprendizado permite a independência, a autonomia do sujeito, é muito bom e não faz mal pra ninguém. Hoje posso dizer que me sinto orgulhosa, sem precisar de alguém para segurar minha mão para assinar meu nome”.
E para nossos governantes o recado que ela deixa é: “Procurem investir ainda mais na educação de jovens e adultos – EJA e na formação do professor para que o ensino seja de qualidade e garanta o acesso, a permanência e o sucesso do aluno”.


Professor Emídio, responsável pelas aulas do EJA, e os alunos de alfabetização
do Grupo Ibaiti Melhor Idade com Dignidade.

E esta é a nossa primeira entrevista, com uma mulher batalhadora e um belo exemplo de força de vontade, determinação, e de que nunca é tarde para fazermos aquilo que queremos. Vale lembrar também que independente do esforço individual o maior e principal esforço é dos nossos governantes, em investir cada vez mais em educação.
E só pra compartilhar com vocês, este texto publicado hoje no blog será trabalhado com os alunos do EJA em sala de aula , pelo professor Emidio, como forma de leitura , e na aula de informática os alunos terão acesso ao nosso blog para acompanhar esta matéria. Fiquei muito feliz com isto.

Espero que tenham gostado do nosso primeiro encontro, e se vocês têm uma história bonita e querem compartilhar conosco, ou conhecem alguma história que queiram indicar pra nós, enviem email para vidarealcolcha@hotmail.com , ficaremos imensamente gratas com sua contribuição.
Um abraço...








Colaboração e agradecimentos: Regina Lemes – Pedagoga do CRAS/Ibaiti-Pr.


Quer saber mais sobre o assunto?Acesse:

http://www.inep.gov.br/informativo/informativo79.htmI

http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=caldb&comp=Instituto+Paulo+Montenegro&docid=582F1735D3B791FF832573AD0053E4A0
• Grupo Ibaiti Melhor Idade com Dignidade: http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=743251578372515749

(Fontes: IBGE, Ibope-Instituto Paulo Montenegro, INEP)

24 Comentários:

Regiane Modesto disse...

Ai que história mais linda Rô. É uma lição de vida.
Lembro-me da minha mãezinha (avó) que faleceu sem realizar seu grande sonho: ler a Bíblia Sagrada.

Ela até entrou numa turma de alfabetização, mas no auge dos seus 70 anos (quando ela começou), sua visão já não ajudava muito. O máximo que ela conseguiu foi aprender a fazer a assinatura dela.

Ah se eu pudesse voltar no tempo...

Fatinha disse...

hahah que linda a historia!!
Eu já falei né?
vc tinha que virar jornalista!!
bjao

Anônimo disse...

Muito legal esta história, como você disse é um exemplo, e um exemplo a ser seguido.

Anônimo disse...

Muito Legal Rô, bonita história e parabéns pelo seu texto.
Jéssica.

Aline Vicentin disse...

Miga...
Sei que serei repetitiva e tal, mas tenho que dizer...
Vc arrasooouu!!!
O post ficou muito bom e é um exemplo de vida...
Parabéns pela entrevista...
Bom, não vou falar mais nada, pois sou suspeita pra falar e no mais já falei pra vc no msn...hahaha
Um grande abraço querida, pra vc e para todas as meninas dessa colcha linda...

Poliana Canha disse...

Que maravilha de história de vida!
Lindissima.
Bjs

Anônimo disse...

Parabéns pra essa senhora, que conseguiu não ser mais uma na multidão.
E Parabéns a todos os idosos que mesmo estando em idade avançada, não perderam a vontade de sonhar e de atingir seus objetivos.

Gleice Giotto disse...

Nunca é tarde para aprender né Rô.
Essa mulher é um exemplo.

Bjuz

Thania disse...

ESSE É UM EXEMPLO Q MUITAS PESSOAS DEVERIAM SEGUIR...

ADOREI A ESTREIA RO.....COMEÇOU COM O PÉ DIREITOOOOO...AMEI!

BJOOOOSSS

* Mi¢hєℓє* disse...

Que lindo Rô...

Aqui também funciona o EJA..mas pena que a informação acaba não chegando a todos..ou nem todos tem disponibilidade por diversos motivos de frequentar...eu conheci pessoas que embora eram analfabetas, guardavam tudo na memória através de coisas que as pessoas liam para elas..a mãe de uma amiga minha, que já faleceu, fazia umas receitas maravilhosas que ela guardava bem na memória..imagine então se soubesse ler? O que não faria?

Parabéns a todas essas pessoas e a essa senhora...Cabe a nós tbem ajugar a pelo menos levar informação às pessoas que ainda não têm esse privilégio de ler e escrever...

bjss

Anônimo disse...

Bem legal, parabéns, bjos!

Personality Criações disse...

Pensou que eu não fosse dar o ar da graça?
Engano seu, não ia perder sua estreia por nada!
Rô,que história mais lindaaaa!!!
Você arrasa,né?
PARABÉNS!
Bjks

Renatinha disse...

Ah se o Brasil fosse completamente alfabetizado nao teria esses politicos que temos.. q usam a inocencia d povo pra ganhar os votos e assim ficarem ricos.
Outra coisa q acho imperdoavel, sao as familias q nao leem livros pros seus filhos, deixam tudo por conta da escola.. educacao comeca em casa!!
bjus

Tati disse...

Ai q linda !!! Parabens Rô !! Linda materia !! Não vejo a hr de ver as proximas ... lendo esta materia lembrei de uma senhora de 99 anos q voltou a estudar ... passou no jornal da globo esses dias ... ai ai linda historia mesmo!!

Um beijoo enorme e parabens !!!

Nat disse...

Que linda historia...
Adorei Rô...
Vc sempre arrasa!!!
*bjoOS*

Carol disse...

Que linda materia, Ro!! Vc arrasou no post!
E que historia bonita da dona Jesulina!!

O Brasil tem que mudar em alguma coisa e se as pessoas se concientezarem, com certeza muita coisa muda!

bjus

Nani Borba disse...

Exemplo de vida..pq tem pessoas que tem td escola na porta de casa e naum dá a minima..
TEm pessoas que daria td pra saber ler e escrever..
Mas é sempre assim...

Anônimo disse...

Parabéns pela sua postagem, sem dúvida um dos melhores que já li aqui. é uma bela história e sem sombra de dúvidas um exemplo de vida, mas ainda concordo com vc que a parte principal depende do governo, que é o investimento.
Abraços, Bruna Karla da Silva.

Anônimo disse...

parabéms,a essa senhara e a vc professora Deus te abençoe,linda historia de amor a vida,

Anônimo disse...

Mariana

Parabens pala sua coragem,uma linda historia ,que sirva de liçao pra muita gente

Juh Sutti disse...

Adorei o post!
Nunca é tarde pra realizarmos um sonho.
Bjus

May =) disse...

é lagal quando vemos o quanto somos capazes de superar as dificuldades... nossa isso que me dá esperanaç.. o amanha ainda existirá... espero eu..

bem lindaa.. ameii o post.. Rô arrazou..*-*

ps: desculpa a data.. é que só hj dá para eu dar uma revisada no colcha.. bjskas

May

Tata disse...

Q história maaasi linda gnt q fofa..... Serve de lição p nós.... Parabéns pela matéria...

Simpatiquinha e Simpatiquinho disse...

Eu sabia que essas histórias iam dar lição de vida na gente!! Muita força e muita garra dessa senhora!!

Eu vou buscar a minha força e a minha garra pra envelhecer com esperança e persistência!!

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